Greve Geral 30 de Maio



O Caracol não fez greve. Mas foi prejudicado por ela.

Confesso que não consigo entender o objectivo da greve. Hoje, no infindável tempo que passei no trânsito, dei por mim a tentar perceber quem é que ganhava com esta greve. E as conclusões a que chego deviam fazer pensar quem insiste nesta forma de luta.

A meu ver aqueles que ganham mais são precisamente aqueles que se quer afectar... ah! e também os taxistas.

Senão vejamos:

- Ganham as empresas de transportes que não funcionaram devido à greve, ganham porque além de não terem de pagar um dia aos funcionários ainda poupam em custos fixos, a perda de receitas é perfeitamente desprezável;

- Ganham as gasolineiras com o aumento de receitas;

- Ganham as grandes empresas, com o que poupam em salários, sim porque duma coisa podem ter a certeza, o trabalho que os grevistas não fizeram hoje, vão fazê-lo amanhã ou depois.

- O Governo talvez não ganhe grande coisa, mas também não perde.

Eu também acho que é preciso de mudar de rumo, mas o Manifesto da CGTP para a Greve Geral, é completamente demagógico, não apresentando uma única proposta de solução, zero! Nem viável, nem inviável, é o protesto pelo protesto. Eu cá para mim desconfio que a malta da CGTP é toda benfiquista e arranjou esta greve como escape para as suas frustações futebolisticas... só pode.


Os principais prejudicados por esta greve:


- São os trabalhadores que, como eu, se deslocam de transportes públicos para o trabalho;

- São os pacientes do SNS que não são operados ou vêm as suas consultas adiadas mais uns meses. Sim os do SNS, porque os das instutuições privadas, ou nem dão pela greve, ou são operados já amanhã;

- São os alunos, que perdem mais um dia de aulas, e o tempo que se perde nunca mais se recupera.


Provavelmente, vou ser acusado de muita coisa por causa deste post, mas posso-vos dizer que sempre me vi como um "tipo de esquerda", e as minhas convicções não ficam abaladas com isto, mas que fico desiludido com esta esquerda demagógica fico, e que a mim me incomoda tanto esta esquerda demagógica, como a direita demagógica, isso incomoda.


O país está mal. Está mal por muitos motivos, e nenhum deles vai desaparecer com esta greve. A situação do país é resultado directo do somatório das acções de cada indivíduo. Está mais do que na hora de toda a gente perceber, principalmente os sindicatos, que a diabolização do patronato, esse monstro!, e a desresponsabilização dos trabalhadores, coitadinhos!, não resolve porra nenhuma!


Onde é que uma greve geral vai ajudar a criar emprego? Os próprios conceitos são antagónicos, chega a ser irónico, não ir trabalhar por causa do pessoal que não tem emprego, faz lembrar aquela organização que tem o lema de correr pelos que não podem, mas ao contrário... Até parece que a malta que convocou a greve tem inveja de quem não tem emprego...


Há maus patrões, maus governantes, maus sindicalistas, maus trabalhadores, maus bloguistas, é assim o universo há pessoal imcompetente em todo o lado. O principal é encontrar equilibrios, e a mim parece-me que se perdeu o equilibrio entre empregados e empregadores. E, a meu ver, os vectores principais desse desequilibrio são o medo e a falta de ambição, de muitos empregados e no aproveitamento desses factores da parte de muitos empregadores.


E eu acho que não há nenhum governo, nem nenhuma greve que vá conseguir mudar a atitude das pessoas perante a vida e acima de tudo perante a redistribuição da riqueza gerada.

Existem alguns sectores, onde esse equilibrio foi atingido, por exemplo, o futebol. Os futebolistas, foram capazes de se valorizar, e obter a sua fatia da riqueza gerada, em alguns casos este fenómeno foi tal que o desequilibrio se deu ao contrário, ou seja, os dirigentes na ânsia de terem os melhores futebolistas, endividaram-se e aos clubes para lhes dar mais do que a riqueza gerada.


Resumindo, que este texto já vai longo, para mim a solução está em cada um de nós como individuos, na busca constante de uma vida melhor, se todos o conseguirmos, teremos uma sociedade melhor e mais justa. Neste momento os pobres, ou os trabalhadores, ou aqueles que se dizem sem poder são reféns de si próprios, porque não se valorizam e se não ganham mais é porque, de certeza há alguém, um seu par, que aceitaria receber menos ou ter menos condições para fazer o mesmo ou melhor... o "survival of the fittest" é uma regra inevitável da vida em comunidade e hoje em dia muita gente se está a deixar pisar para sobreviver, mas sobreviver, não é viver...


Estudem, trabalhem, lutem para ser cada dia melhores e as oportunidades vão materializar-se à frente dos vossos olhos.


Acomodem-se, encolham-se, empurrem a responsabilidade do vosso mal-estar para outros, e a piramide vai continuar a ter um fundo bem largo e explorado, vocês...

2 comentários:

Marta disse...

Caro caracol,

Compreendo-te e não te compreendo.
O direito à greve é o resultado de ganhos dos trabalhadores que não deve ser, pelo respeito à história e à luta dos trabalhadores, menosprezado.

Porém acho que também existem outras formas de marcar a posição, sem prejudicarem os semelhantes que não podem ou não têm razões para fazer greve.

No entanto, acrescento que na minha opinião, esta greve foi positiva; primeiro não foi numa 6ª Feira; segundo faz-nos pensar no papel cada vez mais diminuído que os sindicatos têm e no porquê desta diminuição; terceiro questiono-me se quem não fez greve foi porque não têm motivos, não acredita na greve, opta por não pensar no caminho que, principalmente a Segurança Social, está a tomar ou SIMPLESMENTE porque não lhe foi PERMITIDO fazer uso do direito à greve. E isto sim é um retrocesso na cidadania e consequentemente na democracia. Porque quem faz greve também perde um dia de trabalho e a vida não está fácil para ninguém.
Enfim tenho muito em que ir pensar...

Anónimo disse...

Pois, a Sofia tem razão nalgumas coisas: numa daquelas perguntas no Publico Online 13% das pessoas diziam que não fizeram greve por receio de "represálias". E depois ainda ouve a história do registo dos grevistas "para facilitar o desconto do tempo de trabalho".
Acho que a CGTP está a fazer o trabalho de oposição que o PC está a seguir. Sempre foi assim, umas vezes o timming e as razões são melhores outras vezes não, isso é determinado em parte também pela adesão...

Não segui de perto o contexto da greve (já agora, aqui nos EUA o 1º de Maio não é celebrado) mas os temas pareceram-me importantes: emprego precário, flexibilidade, etc. É daqueles temas que não tem um timming específico: não se dá quando é assinado um Decreto de Lei ou quando acontece isto ou aquilo, infelizmente tem estado sempre lá.

A frase "Estudem, trabalhem (...) e as oportunidades vão materializar-se à frente dos vossos olhos." é muito gringa, mas olha que isto do sonho americano muitas vezes é só uma cenoura.